Murderous
Passions: The Delirious Cinema of Jesus Franco
de Stephen Thrower com Julian
Grainger
434 páginas a preto e branco, com 32 páginas em cor
268.8 x 240 mm
Publicado em 2015 pela Strange Attractor Press.
Para quem não sabe, ainda,
Jesús “Jess” Franco Manera foi um realizador espanhol de cinema alternativo. Foi
um dos realizadores mais prolíficos de sempre, contando na sua obra com mais de
180 filmes, numa carreira que atravessou 6 décadas. Em 2009 foi-lhe atribuído o
prémio carreira nos prémios Goya, em Espanha. Nasceu a 12 de Maio de 1930 e
faleceu a 2 de Abril de 2013.
Trabalhando, na sua grande
maioria (salvo algumas excepções), com baixos orçamentos, Franco fez de tudo um
pouco (comédia, romance, aventura, western, terror), acabando por assentar o
seu estilo nos eurosleaze tipicamente europeu. A sua obra é tudo menos
consensual, mas uma coisa é certa, não há meio-termo. Ou se ama ou se odeia.
Como será de prever, com
tantos filmes sob o seu nome e pseudónimos; tendo trabalhado com diversas
produtoras europeias; assim como as diversas versões dos filmes e posteriores
edições em VHS, DVD ou Blu-ray; tentar alinhar na perfeição todos os seus
filmes e respectivas edições é tarefa árdua. Stephen Thrower (com uma pequena,
mas essencial ajuda de Julian Grainger) não teve medo e pôs as mãos ao
trabalho.
Já existiam alguns livros disponíveis
sobre o realizador espanhol, mas nenhum tão completo e exaustivo como este “Murderous
Passions: The Delirious Passions Of Jess Franco”.
De salientar que esta é
apenas a primeira parte de duas. Esta cobre a filmografia desde “Tenemos 18
Años” de 1959 até “Les Grandes Emmerdeuses” de 1974. Ao longo de 434 páginas
faz-se o exame exaustivo de cada um dos filmes de Jess Franco, incluindo completíssimas
fichas técnicas, sinopses, notas de produção, crítica por Thrower e/ou Grainger,
música, locais de filmagem, ligações a outros filmes / livros / inspirações, a
essencial listagem de versões do filme, e notas de imprensa da época do lançamento.
Mais completo não podia ser. Além da óbvia biografia do Tio Jess e introdução à
sua obra temos também uma entrevista conduzida por Thrower com o realizador e a
sua companheira e musa Lina Romay a 24 de Março de 2010.
Inicialmente existiam duas versões do livro, mas a versão
limitada a 300 exemplares está já esgotada. Podem ainda adquirir a versão
normal (na foto). Uma obra indispensável para os apreciadores do cinema do
falecido realizador espanhol, assim como os fãs de cinema alternativo e meros curiosos.
Se apenas vão comprar um livro sobre o homem, esta é a vossa opção. É um bocado
caro, eu sei, mas acreditem que vale a pena cada cêntimo. RDS
A série de DVDs da Synapse Films,
“42nd Street Forever” tem tido imensa procura pelos fanáticos de
cinema exploitation e grindhouse dos 70s. Depois de vários volumes no formato DVD,
a Synapse lança o primeiro Blu-Ray da série. O alinhamento deste disco combina uma
selecção de trailers dos 2 primeiros volumes com algumas novidades, fazendo um
monstruoso total de 89 títulos. São mais de 3 horas de insanidade, sangue,
nudez, exploitation, terror, ficção científica e acção, devidamente remasterizadas
em alta definição 1080p. Os bónus incluem um comentário áudio com Edwin
Samuelson (Avmaniacs.com), Michael Gingold
(Fangoria) e Chris Poggiali (Temple Of Schlock). 95%
RDS
A
lista completa de trailers é a seguinte:
1.
Black Samson
2. Savage! 3. Kenner
4. The Guy From Harlem
5. Welcome Home, Brother Charles
6. Boss Nigger
7. Honky
8. Sugar Hill
9. Rolling Thunder
10. Act of Vengeance
11. Ms. 45
12. They Call Her One Eye
13. Ginger
14. Savage Sisters
15. Chained Heat
16. Delinquent Schoolgirls
17. The Pom Pom Girls
18. The Teasers Go to Paris
19. The Teacher
20. College Girls
21. Street Girls
22. The Babysitter
23. Teenage Mother
24. I, A Mother
25. When Women Had Tails
26. The Curious Female
27. The Tale of the Dean's Wife
28. The Minx
29. The Centerfold Girls
30. The Depraved
31. Invitation to Ruin
32. Helga
33. The Sun, the Place and the Girls
34. Fairytales
35. Flesh Gordon
36. Starcrash
37. Dark Star
38. The Raiders of Atlantis
39. Matango
40. The Green Slime
41. They Came from Beyond Space
42. The Deadly Spawn
43. The Dark
44. The Evil
45. The Evictors
46. The Undertaker and His Pals
47. The Devil's Nightmare
48. Deadly Blessing
49. Rabid
50. Eye of the Cat
51. Mark of the Witch
52. I Dismember Mama/The Blood Splattered Bride
53. Women and Bloody Terror/Night of Bloody Horror
54. Dr. Butcher M.D.
55. The Grim Reaper
56. Dr. Tarr's Torture Dungeon
57. Wicked Wicked
58. The Flesh and Blood Show
59. The 3 Dimensions of Greta
60. Hard Candy
61. Panorama Blue
62. Italian Stallion
63. Maid in Sweden
64. Pornography in Denmark
65. Secret Africa
66. Shocking Asia
67. Taboos of the World
68. Chappaqua
69. Salo, or the 120 Days of Sodom
70. The 44 Specialist
71. The Bullet Machine
72. Death Drive
73. Spy in Your Wife
74. Kiss the Girls and Make Them Die
75. The Last of Secret Angels
76. The Crippled Master
77. Shogun Assassin
78. SuperManChu
79. Born Losers
80. Hells Angels on Wheels
81. Devil's Angels
82. The Pink Angles
83. Werewolves on Wheels
84. Dixie Dynamite
85. Mr. Billion
86. Super Fuzz
87. Sunset Cove
88. Van Nays Blvd.
89. Skatetown U.S.A.
“Chiller”
foi uma série de TV, em formato de antologia, composta apenas por 5 episódios.
Foi exibida originalmente em 1995 na Inglaterra. São cinco histórias que
combinam terror e fantasia reminiscentes de antologias televisivas clássicas
como “Twilight Zone” ou “One Step Beyond”. No elenco constam nomes como Nigel Havers (Chariots of Fire, Coronation Street), Martin Clunes (Men Behaving Badly), Sophie Ward (Young Sherlock Holmes) ou Kevin
McNally (Pirates of the Caribbean),
assim como o talento dos realizadores Lawrence Gordon Clark, Anthony Horowitz e
Glenn Chandler.
Os
episódios são os seguintes:
PROPHECY: Uma mulher participa numa sessão espírita
com um grupo de amigos. Todos eles recebem profecias que lhes dizem respeito. Cinco
anos mais tarde, as profecias começam a tornar-se realidade.
TOBY: Uma mulher grávida perde o feto num acidente
de viação. Mais tarde descobre que está de grávida de novo mas, uma ecografia
revela que não é essa a realidade. Esta fica convencida de que está a ser
assombrada pelo espírito maligno do feto que perdeu.
MIRROR MAN: Uma assistente social tenta ajudar um
jovem sem abrigo mas, descobre que o seu antecessor morreu de forma misteriosa.
THE MAN WHO DIDN'T BELIEVE IN GHOSTS: Um escritor
que não acredita no sobrenatural muda-se para uma alegada casa assombrada para
provar que os fantasmas não existem.
NUMBER SIX: Em Helsby, uma pequena vila de Yorkshire,
a polícia tenta capturar um assassino de crianças que ataca nas noites de lua
cheia.
Quanto à
edição propriamente dita, o som é Dolby digital 2.0 Mono, com uma proporção
1.33:1 full frame. Esta edição da Synapse Films é orientada para o mercado Norte-Americano, e daí o DVD
estar em formato de região 1, e sem qualquer tipo de legendas. No entanto, se
isso não te desencoraja, e tens a possibilidade de ver discos de região 1,
aproveita para rever esta curta mas intensa série Britânica.
A rúbrica “O que é?” permanece na Itália, para desta
feita vos apresentar outro subgénero popular nas décadas de 60 e 70: o Giallo
(ou gialli no plural).
O termo foi originalmente utilizado para descrever as
novelas de suspense e mistério que eram comercializadas em livros de bolso,
baratos, cuja particularidade era ter capas amarelas (“giallo” em Italiano).
Em meados da década de 60, estas novelas começaram a
ser adaptadas para o grande ecrã. No início eram adaptações fiéis dos livros
mas, com o tempo o Giallo como género cinematográfico acabou por tomar
contornos mais artísticos, fundindo as bases de mistério e suspense com algum
terror psicológico e erotismo.
Os gialli
são caracterizados por um ambiente de constante suspense, com forte influência
de Hitchcock e dos Noir norte-americanos, em
que um misterioso homicida (o “whodunit”
é uma marca característica), invariavelmente de luva e de faca, que é o único
que vemos no ecrã no momento do crime, vai assassinando as personagens de forma
brutal, visceral, sangrenta. A brutalidade e frieza do acto são apresentadas de
forma artística, quási-operática, de uma intensidade plena, com planos de
câmara que nos põem na pele do assassino. As vítimas são, na generalidade,
belas mulheres, que são atacadas em momentos de vulnerabilidade, tais como o
duche. A nudez é, portanto, mais que abundante e, o que no início é belo acaba
por se tornar doentio, quando a abundância de sangue se contrapõe à já dita
nudez, num cenário que tem tanto de macabro como de artístico.
Tal como já referido, o assassino mantém-se incógnito
até ao fim, e quando aparece está sempre de luvas, com gabardina, óculos
escuros e chapéu, escondendo não só a sua identidade como até as
características próprias do seu sexo. No decorrer do filme este(a) é
apresentado(a) como uma pessoa normal, equilibrada e feliz até. No entanto, no
final ficamos a saber o seu passado, as suas origens, e motivos para os actos
que perpetrou.
Outro aspecto importantíssimo no Giallo é a banda
sonora, que ajuda a criar o ambiente de suspense, sufoco, paranóia, alienação e
perigo constante. Um dos grandes nomes nesta área é Ennio Morricone que, depois
de ter dado cartas no spaghetti western, as continua a dar no Giallo. Outros
nomes de realce são Bruno Nicolai, Fabio Frizzi, Riz Ortolani e a banda de Rock
Progressivo Goblin (responsável pela maior parte da música dos filmes de
Argento).
Um pormenor que acabou por se tornar também
característica do género, é o facto de a maior parte dos títulos ter referências
a animais ou números, como poderão mais à frente verificar.
O Giallo é notória influência em grandes nomes do
cinema mundial, tais como Brian De
Palma, Quentin Tarantino ou Darren Aronofsky e é, sem sombra de dúvida, o
precursor de um subgénero mais cru, simples e directo, surgido mais tarde nos
USA, denominado Slasher.
O primeiro filme tido como Giallo, lançado em 1963,
foi “The Girl Who Knew Too Much” do mestre Mario Bava. No ano seguinte
realiza o influente clássico “Blood And Black Lace”. Bava ainda iria realizar mais
alguns títulos no género, embora este se movesse em vários estilos, desde o
terror clássico B/W, à ficção-científica, passando inclusive pela comédia. Mas
fosse qual fosse o género abordado, havia sempre um grande cuidado na forma
visual, estética e ambiente. Estas características iriam influenciar fortemente
os senhores que se seguiram.
Outro dos grandes nomes de relevo é Dario Argento, discípulo
e amigo não só de Bava como também de Sergio Leone. Argento aliás é responsável
por alguns argumentos de spaghetti westerns. Argento levou o Giallo a um
extremo de estilo visual, ambiente e terror que seria difícil de igualar pelos
seus pares. O argumento convencional deixou de ser tão importante como o
aspecto estético e, apesar de algumas histórias serem de certa forma confusas,
o ambiente de sonho/pesadelo dos seus filmes é marca do mestre e compensa, e
até dá alguma justificação ao enredo simples, inexistente ou até bizarro. Como
poderão ver mais abaixo, a lista de sugestões está repleta de material Argento.
Outros realizadores de realce são Lucio Fulci (“A Lizard In A
Woman’s Skin” ou “Don’t Torture A Duckling”, ambos de 1971), Umberto Lenzi (“Seven
Blood-Stained Orchids” de 72 e “Spasmo” de 1974), Sergio Martino (“Your
Vice Is A Locked Room” de 72 ou “Torso” de 74), Massimo Dallamano
(“What Have You Done To Solange?” de 72), por exemplo.
O Giallo ainda continua a existir, embora de forma mais
modesta, aleatória e até dissolvida. Na década de 80 este já se havia
transformado e/ou misturado com outros géneros. Poderíamos falar em alguns
nomes e filmes com interesse, mas o Giallo, tal como o entendemos e definimos, era
o produzido na Itália entre 1964 e 1979/80, sensivelmente.
Algumas das sugestões que apresento a continuação são
as mais óbvias, tal como nos outros capítulos desta rúbrica, e não seguem
qualquer ordem, pois são todos essenciais.
The
Girl Who Knew Too Much (Mario Bava, 1963) – O primeiro Giallo e o
último filme de Bava a branco e preto.
Blood and Black Lace
(Mario Bava, 1964) – Se o anterior foi o primeiro, este é um dos mais
influentes e catalisador do género.
The
Bird with the Crystal Plumage (1970) + The Cat o' Nine
Tails (1971) + Four Flies on
Grey Velvet (1971) – Dario Argento e a sua trilogia animal. Os filmes são similares e, nesta altura,
ainda seguem a inspiração Hitchcock, com um argumento mais centrado no mundano,
real, possível, ao contrário das temáticas sobrenaturais que se tornariam sua
imagem de marca. Morricone é responsável pelas fantásticas bandas sonoras (os 3
filmes). A partir daqui, após um desentendimento entre os dois, Argento
passaria a trabalhar com Goblin.
A Lizard in a Woman's Skin (Lucio Fulci, 1971) – Em Londres, a filha
de um respeitado político é assombrada por pesadelos que incluem orgias,
depravações sexuais e consumo de LSD. Num desses pesadelos esta comete um
grotesco homicídio e, quando acorda, depara-se com uma investigação criminal
sobre o assassinato da sua vizinha. Facto interessante: uma das grotescas cenas
envolvendo cães, que assassinam uma mulher, levou Fulci e a sua equipa a
tribunal. O criador de efeitos especiais Carlo Rambaldi testemunhou a favor de
Fulci, safando-o de uma sentença de 2 anos de cadeia. Foi a primeira vez na
história do cinema em que um artista de efeitos especiais teve de provar o seu
trabalho em tribunal.
Black Belly of the Tarantula (Paolo Cavara, 1971) – Um
assassino está a atacar mulheres associadas a um caso de chantagem e extorsão.
O homicida paralisa as suas vítimas com uma agulha e depois esventra-as. O
Inspector Tellini está encarregue do caso. É tido como um dos melhores Giallo
de sempre por muitos fãs de terror.
Don't Torture a Duckling (Lucio Fulci, 1972) – Mais violento do que
os restantes Giallo, este filme marca a introdução de Fulci de elementos gore
mais gráficos que viriam a ser habituais nos seus trabalhos futuros como “The Beyond” ou “City Of The Living
Dead”.
Who Saw Her
Die?(Aldo Lado, 1972) – Uma jovem
é assassinada brutalmente e os seus pais começam a investigar. Os homicídios
seguem-se e toda a gente que se envolve no caso acaba por cair vítima do
assassino. Um facto interessante: George Lazenby, que encarna o pai da rapariga
neste filme, foi James Bond em 1969, em “On
Her Majesty's Secret Service”.
What
Have You Done to Solange?(Massimo Dallamano,
1971) – Outra entrada que é considerada como um dos pontos altos do género. É baseado
em parte no livro de Edgar
Wallace “The Clue of the New Pin”. Enrico Rosseni, professor de Italiano, está
a ter um caso com uma aluna e, num dos seus encontros, estes são testemunhas de
um assassinato. As estudantes começam a ser assassinadas uma a uma. Rosseni é o
suspeito principal e tem de limpar o seu nome.
Torso (Sergio
Martino, 1973) – Considerado o precursor dos Slasher. Um homicida anda a
estrangular raparigas numa faculdade. Um grupo de amigas vai passar um
fim-de-semana na quinta da família de uma delas. O assassino segue-as e mata-as
uma a uma. O argumento parece-vos familiar? É o argumento de qualquer slasher
norte-americano de finais dos 70s e 80s. É claro que em “Torso” é tudo feito
com outro nível de sofisticação próprio do Giallo e que não existe no Slasher.
Profondo Rosso aka Deep Red
(Dario Argento, 1975) – Preciso de me alongar muito? É realizado por Dario Argento!
E é um dos melhores! Ainda
não viram, e ainda estão aqui a ler? Está na hora de perder (ou ganhar na minha
opinião) 120 minutos das vossas vidas.
Suspiria (Dario Argento, 1977)
– Ainda estão a ler? OK, certo, vão acabar de ler o artigo. Mas assim que
acabarem, este é outro Argento obrigatório. É um dos Giallo mais conhecidos,
senão o mais conhecido globalmente. A banda sonora de Goblin é facilmente
reconhecível.
Sette Note In Nero aka The Psychic (Lucio Fulci, 1977) – Outro filme de Fulci
na listagem. Considerado como um dos melhores do realizador, não só no género
aqui retratado, mas num conceito geral de filme de terror. É habitualmente comparado
ao filme norte-americano “Eyes of Laura Mars”
de 1978. Vejam os dois e tirem as vossas conclusões.
The Pajama Girl Case (Flavio Mogherini,
1977) – O estilo visual, o argumento, e até o local onde a história se
desenrola (Austrália) fogem um bocado a aquilo que estamos habituados mas é,
sem dúvida, um Giallo. E um dos melhores, por isso mesmo figura nesta lista.
Fico por
aqui. Muito mais poderia escrever, mais nomes poderia referir, mais títulos a
recomendar, etc. Mas esta rúbrica não pretende ser uma enciclopédia exaustiva
dos géneros retratados, mas sim uma pequena introdução, simples, directa e de
fácil assimilação.
Quanto ao próximo capítulo desta rúbrica, não sei
quando será lançado, nem qual será o seu conteúdo. No futuro ainda pretendo escrever
uns capítulos dedicados a géneros e temas como: slashers, video nasties,
chambara, yakuza, pinku, shaw bros, kaiju, 70s exploitation, etc.